segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Análise e Avaliação de Recursos Educativos online

Chegamos a uma encruzilhada e o próximo passo a dar é escolher o caminho mais acertado, assim, é essencial encarnar Ebenezer Scrooge e realizar uma reflexão dickensiana sobre o nosso passado, presente e futuro. Como tem sido o ensino em Portugal, até onde foi, onde estagnou e por onde deve prosseguir.
Um dos maiores problemas do ser humano é o medo, o temor do desconhecido, todos preferem o conforto do estabelecido, a agradável rotina sem surpresas ou sustos, e esta forma de vida vai de encontro a todas as áreas, seja em termos pessoais ou profissionais, seja para um professor, um motorista ou um carpinteiro. Evolução sim, mas substancialmente controlada, com passinhos de criança, testando cada passo para não cair no precipício hiperbólico que reside nas nossas mentes. Com este comportamento de suprema aspiração à segurança e ao pré-estabelecido no tradicionalismo vigente, todos parecem querer dizer: Evolução não!



Pois bem, o factor crucial é perceber que nos dias de hoje a diversidade de instrumentos, de ferramentas e de recursos de aprendizagem caracterizam-se de forma substantiva pela imensidão, mais além que a evolução, ou seja, na actualidade a oferta educativa e tecnológica é grande. No entanto há que analisar criticamente, e sob variadíssimos aspectos, o que essa imensidão de oferta nos traz. Muitas vezes abusa-se da utilização de recursos educativos disponíveis na Web, apenas porque poupam o esforço da criação pessoal e protegem do extenuante e doloroso trabalho, mas na outra face da moeda existe a negligência e a leviandade na forma como se trabalham e avaliam os mesmos. Daí que, como em todas as situações da vida, há que parar e efectuar uma análise maturada e equilibrada, e quando se fala de recursos educativos a exigência de análise deve ser incansável, pois enquanto formadores/professores temos nas mãos o testemunho do saber, a chama olímpica (não roubamos o fogo para o dar aos mortais tal Prometeu Agrilhoado, mas criamos e recriamos a sabedoria e transmitimo-la aos nossos semelhantes) que devemos passar sem egoísmos, livres da sintomatologia da possessão, e esse testemunho deve ser claro, coerente e confiável, pois irá por sua vez passar de mão em mão, quase como símbolo tradicional de transmissão de conhecimentos. 
Pelo exposto deve realizar-se uma avaliação dos recursos a utilizar que passará por alguns critérios sólidos e que se ajustam ao nosso objectivo. Devemos sempre recordar que somos criteriosos na escolha de um manual escolar, mesmo que tenha sido elaborado por uma equipa de peritos na área e, apesar da confiança numa determinada editora, ou mesmo nos autores, temos  sempre uma atitude selectiva e analítica, enquadrando a nossa escolha no nosso contexto e nos nossos objectivos. Assim sendo, mais exigentes teremos de ser na análise de um recurso on-line, porque todos podem falhar, está na genética humana, independentemente da habilitação profissional de cada um.



Quando se trabalha com recursos educativos um dos passos a dar é avaliar o seu conteúdo, verificar se este é actual, se está conforme com a época, sem desfasamentos temporais, e é preciso, sem erros gramaticais ou factuais. Para além destes factores deve ir de encontro às necessidades do aluno, enquanto objectivos a atingir, estar de acordo com o seu nível etário, assim como com níveis de dificuldade relativamente ao público-alvo e ao seu meio envolvente. Ou seja, qualquer educador/professor deve interiorizar as diferenças entre os seus alunos e ter em consideração a teoria da inteligência múltipla, ou seja, seguir o que Driscoll afirma no livro Psychology of Learning for Instruction, que o desenvolvimento cognitivo provem de, pelo menos, sete domínios autónomos, linguagem, música, raciocínio matemático lógico, processamento espacial, actividade corporal cinestésica, conhecimento interpessoal e intrapessoal, e estes compõem a soma da própria inteligência, daí que tem de se aceitar e interiorizar que os alunos têm graus diferentes e aprendem de formas diferentes.
Outro aspecto a avaliar serão os próprios objectivos do recurso e se o mesmo possui afirmações claras e não ambíguas, se a informação se encontra acessível e possui a flexibilidade suficiente para se adaptar a diversas formas de ensino, encorajando a reflexão, promovendo a autonomia e o pensamento crítico, assim como as competências de comunicação e de interacção. Outro ponto a focar relaciona-se com a estrutura e organização dos materiais, a sua unidade e congruência, com a implícita necessidade de verificar se os conceitos que surgem são elucidativos, se os assuntos são variados, o vocabulário apropriado, se a pedagogia é inovadora e se existem actividades introdutórias ao tema e concretos instrumentos de avaliação.
Também as questões técnicas devem ser analisadas, segundo Otto Peters, no livro Didáctica do Ensino à Distância, a possibilidade de aprender também com o auxílio de imagens animadas é importante porque as pessoas, de uma forma geral, estão acostumadas desde a infância/juventude a assimilarem as informações pela televisão e que, por essa razão, já desenvolveram o hábito visual. Assim sendo todo o suporte visual é relevante, não deve ser tido como um elemento secundário, mas sim um complemento essencial, desde as ilustrações, ao tamanho das letras, ao layout, ao design visual.
Por outro lado, a juntar a todos os elementos supracitados, devem realizar-se considerações sociais, pois devemos aceitar a diferença que pauta o ser humano e a normal heterogeneidade vigente entre turmas e alunos, que passam pelas ideologias, crenças, raças e etnias, pois qualquer avaliação devidamente efectuada evitará maiores transtornos como a presença de elementos ofensivos, pois o recurso deve aceitar e adaptar-se ao multiculturalismo, devendo assumir, tal como Agostinho da Silva, que a educação não deve separar-se do mundo.
Posto isto, uma última etapa, de suprema relevância, seria a avaliação do recurso em contexto, que constituiria uma evidência final do processo de avaliação, que como Ramos refere, passaria por verificar que um determinado produto foi usado sob determinadas condições e apresentou potencialidades pedagógicas para determinado grupo-alvo e para alcançar determinados objectivos educativos. Ou que, como Ramos refere ainda, quando aquele produto for avaliado na sala de aula sê-lo-á respeitando todas as indicações de carácter ético e de carácter moral, respeitando o ritmo do currículo, respeitando os alunos, e respeitando aquilo que, evidentemente, é importantíssimo para nós, que é a integridade dos nossos alunos.
Em suma, nos dias que correm, numa rápida navegação pela web, descobrimos uma panóplia de websites repletos de recursos para todas as áreas do saber, e se a pesquisa for estendida a países como Brasil ou Estados Unidos da América, a diversidade será ainda maior. Aqui reside uma situação que tem tudo para nos encher de optimismo, pois prova que o trabalho do professor continua fora da aula e a paixão pela profissão faz com que crie e partilhe o seu trabalho, proporcionando recursos educativos a outros. O trabalho individual dos que lêem, será analisar, avaliar e seleccionar que melhores recursos servem os seus objectivos devidamente delineados e daí continuar o seu percurso porque "caminante no hay camino, se hace camino al andar", já dizia Machado.

Referências:


Driscoll, M.P. Psychology of learning for instruction. Boston, MA: Allyn & Bacon Publishers. 2005


PETERS, Otto. Didática do Ensino à distância: experiência e estágio da discussão numa visão internacional. Tradução: Ilson Kayser. S.Leopoldo: Editora UNISINOS. 2001


RAMOS, José Luís. Avaliação e Qualidade de Recursos Educativos Digitais. Cadernos SACAUSEF V. 2008 http://www.crie.min-edu.pt/files/@crie/1262962176_CadernosSACAUSEF_V_JLR_pag11a17_PT.pdf


SILVA, Agostinho da. Considerações e outros textos, Lisboa, Assírio & Alvim. 1989 


Reflexões sobre a importância de recursos educativos digitais para a inovação das práticas educativas na Escola