sábado, 21 de maio de 2011

Construção da Identidade na Adolescência

(O nascimento de Vénus - Botticelli)

A identidade distingue-nos dos outros, mas ao mesmo tempo implica a relação com a sociedade. Se por um lado temos a nossa própria identidade, que fomos construindo ou que alguns ainda estão a construir, tempos algo nela que nos assemelha a outras identidades, no que concerne por exemplo à questão racial, de género, de nacionalidade, de religião e afins.
Erikson (1972) refere que “construir uma identidade implica definir quem a pessoa é, quais são seus valores e quais as direcções que deseja seguir pela vida.”
Kimmel e Weiner (1998) resumem os compromissos com que as pessoas estão implicadas em três atitudes: atitudes ideológicas (valores e crenças que guiam as acções); atitudes ocupacionais (objectivos educativos e profissionais); e atitudes interpessoais (orientação de género que influencia as amizades e relacionamentos amorosos).
Daqui o debate sobre identidade criado à volta da tensão entre duas vertentes: “posso lutar para ser eu próprio” ou para “encontrar o meu próprio EU”.
Pegando nestas duas premissas, creio que com a conjuntura actual podemos debater-nos com um constante problema de identidade e de identificação, pois quando nós, enquanto adultos, vemos as nossas vidas, previamente erguidas sobre o que nos pareciam estacas de arquitectura pombalina, com aspectos profissionais, económicos, sociais e pessoais delineados, sofrerem uma violenta alteração, temos de reanalisar uma série de opções e prioridades. Um adulto que vive numa actual crise económica de escala mundial, se vê sem emprego e com tudo o que daí advém, começa de facto a colocar em dúvida muitas das suas escolhas, das suas crenças e dos seus valores e isso, consequentemente, afecta a sua aparente sólida identidade pessoal e social. (A construção da identidade não fica limitada ao período cronológico da adolescência (com final entre 18 ou 20 anos), mas prolonga-se até que o indivíduo consiga, pelo menos, algumas tarefas, como a carreira e a independência económica - A construção da identidade em adolescentes: um estudo exploratório - Teresa Helena Schoen-Ferreira).
E se tudo isso afectará a identidade de um adulto, o que dizer de um adolescente que sente uma incapacidade de encontrar uma identidade académica, profissional ou ocupacional? E se a esta a situação acrescentarmos aquilo que afirmam Kalina e Laufer (1974) “as sociedades ocidentais estão a promover valores e exigências confusos e não explícitos. Isto, a nosso ver, dificulta o desenvolvimento da identidade pessoal pois, antes de questionar os valores transmitidos pela sociedade e pela família, o adolescente precisa descobrir quais são.”
Se a escola e a família têm um papel crucial na orientação destes adolescentes, adultos do futuro, os próprios meios digitais também cumprem aqui um papel. Estes jovens “digital natives” podem receber daqui uma ajuda e uma fonte de luz na orientação dos seus caminhos, que não recebem em outro local da sociedade “networking sites like MySpace provide opportunities for social interaction and affiliation that are crucial developmental tasks for this age group—opportunities that are all the more important now, as their access to “offline” public spaces has become increasingly restricted.”

Comentário a partir dos textos:
Buckingham, David. “Introducing Identity." Youth, Identity, and Digital Media 
Schoen-Ferreira, T.; Aznar-Faria, M.; Silvares, E. (2003). A construção da identidade em adolescentes: Um estudo exploratório

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